sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Do medo

             Eis que surge o incômodo! Ainda que isoladamente, deveria constituir motivo suficiente para o rompimento ou a promoção de mudanças. – concluímos!
             Prático, se o mesmo não dispusesse de um adversário severamente estrategista: o medo!

               Sendo assim, se nos propusermos a identificar a origem dos nossos medos, olhando para dentro, como exercício de auto-compreensão, com a finalidade prévia de entendimento da dinâmica de “nós mesmos”, é possível perceber o quanto o medo se apropria e fortalece de todas as construções absolutas e ideais fixos, sobretudo das idealizações construídas ao longo de nossa existência.

              Veremo-nos apegados a expectativa de que a situação atual e todo o seu complexo, dado um não tão certo, porém muitíssimo esperado momento “possa vir” a tornar-se tal como aquilo que idealizamos. Pois, afinal, "reza a lenda" de que todos os nossos esforços teriam sido em vão, não é mesmo? A sensação de fracasso seria inevitável! Porém, hoje após todas as revisões possíveis, acredito irremediavelmente, que se existe esforço para considerar algo satisfatório, seja uma situação ou relação, se existe uma ação ou um projeto de melhoria que pretendo seguir para transformar o que de fato vivencio, entendo como fracassada a intenção de “enquadramento” daquilo que vivo, compreendido que o que motiva a minha insatisfação seja a utopia de uma idealização. Trata-se da minha incapacidade de lidar com isto afinal, e quando o "isto" provém de uma escolha, me parece absolutamente sem sentido que eu tenha de "enquadrar" ou "melhorar" algo que tenha escolhido para mim mesma.

               Ainda que com todos os incômodos, a passividade como conseqüência do medo, advém da crença na probabilidade de que o que temos, venha a se tornar aquilo que gostaríamos de ter. O foco no emprego perfeito, no parceiro perfeito, na família perfeita, no relacionamento perfeito ou no cotidiano perfeito, anula um fator predominante na equação das relações humanas: o outro, sob o qual por mais que desejemos e nos esforcemos, ainda que dotados de uma capacidade notável de manipulação, não possuímos o total controle.

                Em se tratando de bilhões de “individualidades”, se existe algo pelo que temo, mais que o "assustador" enfrentamento do desconhecido, que sugere que conheçamos o presente e o que está por vir, quando sujeitamo-nos as intempéries da natureza e da própria  raça humana, definitivamente é a prisão deliberada provocada pelo “e se...” ou por um projeto unânime que por mais que eu acredite que seja capaz de atender a todos, vá me rementer à situações conflitantes e ao desequilíbrio onde vigora a orientação egóica impositiva, que nega o que me parece óbvio: a tentativa de  remediação de péssimas escolhas.

2 comentários:

  1. Penso no que podemos nos sujeitar quando não temos certeza do que queremos... Dúvidas... sempre elas pra arruinar tudo! Sempre acreditei que medo era covardia... hoje vejo que no fundo, é algo que sempre usei como disfarce para não mostrar o que realmente sou... Medo de não agradar outra pessoa? Pode ser. Mas no fundo, sempre foi por medo de conhecer a mim mesma, profundamente!

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  2. Dependendo daquilo que pretendemos como “nós mesmos”, também acredito ser muito mais agradável, conviver apenas com nosso reflexo. Quanto aos prós e contras... Depende somente do quão hábil te tornas na arte de manter-se na superfície de si mesmo.

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