segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Da imperfeição

            Quando percebi aquela criatura destemida, que parecia saída das páginas de todos os meus filósofos preferidos, expressando suas opiniões ácidas, revelando-se nas pistas de dança, vivenciando suas paixões afirmativas, avessa às dramatizações, cheia de vontade de vida, logando todos os meus chats e redes sociais, tomei consiência de que possuía um outro eu e que esta personalidade alternativa referia-se a expressão não declarada daquilo que eu idealizava como meu “eu” perfeito.

            De uma forma abrangente, foi possível avaliar a razão para o universo de expectativas que integravam não só a minha, mas a mente humana de uma forma geral. Ainda que Platão já o tivesse dito, só seria possível validar tais conclusões, a partir de muita reflexão e do estudo e avaliação crítica, não apenas do meu, mas de todos os casos dos quais pude estar relativamente próxima.

           Reconhecer, ainda que não se trate de novidade alguma, que o homem constitui em si mesmo o maior instrumento daquilo que denomina como infelicidade, retirou-me do papel de vítima, libertando-me das atribuições de responsabilidade e conseqüentemente, colocando-me no cerne da questão. Uma vez que cada elemento existente no mundo real - incluindo a nós mesmos - possua uma forma ideal, o elemento “real” estará sempre para o elemento “ideal” como uma espécie de cópia inferior ou imperfeita.

            E quanto a esta pretensão egocêntrica que sugere a sujeição do universo à uma ordem particular? Não que eu acredite, considerando minhas limitações humanas, que seja possível abortar o embrião ideológico. Mas certamente que se pode racionalizar sobre este, reconhecendo, por exemplo, nos extremos de nossas sensações, avaliando nosso comportamento, o quanto os mesmos parecem contagiados ou infectados por idealizações.

            Não se trata de não sentir, mas sim, de aprender como fazê-lo. Pois é fato que alguns elementos deste universo sensível podem oferecer instrumentos com os quais possamos produzir algum bem de utilidade. A problemática em questão se dá, quando este universo impenetrável, destila um veneno que culmina em compulsões e frustrações. É preciso que estejamos aptos a identificar quando estas idealizações passam a nos acometer de maneira prejudicial, comprometendo a nossa vitalidade e fragilizando, até mesmo  nossa saúde mental.

4 comentários:

  1. *Ana R.*
    As idealizações, fruto de nossas frustrações passadas, completamente incubadas por vaidade do ego. Pensei, por vezes que ele era fraco, mas não, é mto forte e resiste a toda prova para me manter exatamente como sou! 2012 = Travar uma luta com ele! rs. OBS: Adorei o 3º paragrafo! Super a nossa amizade nos tempos de paixão...rs

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  2. Já deixei a dica de como trabalhar um oponente severo para esta batalha! Faço votos!!!
    =D

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  3. "Reconhecer, ainda que não se trate de novidade alguma, que o homem constitui em si mesmo o maior instrumento daquilo que denomina como infelicidade, retirou-me do papel de vítima, libertando-me das atribuições de responsabilidade e conseqüentemente, colocando-me no cerne da questão." Consegui melhorar muito depois que reconheci isso.

    Bem vinda Lisa!

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  4. Obrigada Evy!Não é impressionante como a vida toma um novo direcionamento quando nos ocupamos em voltar nossos olhos para dentro?

    Deixe seu link para que eu possa fazer uma visita!

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