quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Apresentação

Ainda na 4° série do ensino fundamental, quando a maior diversão dos meninos que eu conhecia se limitava a perfurar as paredes de gesso e isopor da escola (locada praticamente dentro de um cemitério); uma dúzia de lápis esfacelava em uníssono os fundos da sala de aula, enquanto os alunos que não praticavam o pequeno delito aglomeravam-se ao redor dos pequenos destruidores para brincarem entre os flocos que flutuavam pela sala, fingindo tratar-se de neve.
 Na porta, observando a movimentação nos corredores, ocupando a infeliz posição daquela que nem se diverte com a farofa de isopor, nem degrada o patrimônio da escola, lá estava eu, encarregada de avisá-los do retorno da professora. _ "Ao menos eles estavam se divertindo com alguma coisa que não fosse eu!" - pensei. E naquele momento, tive meu primeiro insight existencial, refletindo sobre meu papel naquele grupo social e percebi dois sérios problemas que me acompanhariam pelo resto de minha vida.
            1º Eu estava completamente deslocada 
            2º Ninguém me levava a sério
          Segundo a lógica freudiana, posso me considerar uma sobrevivente! afinal, a infância de humilhações poderia ter servido como alguma espécie de justificativa psicológica para que eu me tornasse um tipo de abominação social, entretanto, mesmo que fatalmente tais circunstâncias tenham incentivado algumas das minhas escolhas futuras, não cometi nenhum homicídio, me afundei no tão relatado e corriqueiro submundo dos psicoativos, não desenvolvi nenhum tipo de distúrbio ou compulsão que me condicionasse a acompanhamento psiquiátrico, tão pouco me tornei uma espécie de indigente, desenganada, praticante de pequenos delitos indispensáveis a minha sobrevivência.
         Sendo assim, aqui estou eu, inaugurando este blog, certa de que o mundo real sempre me parecera complicado demais, disposta a compartilhar as filosofias, pensamentos e práticas deste ser que considero em ascensão, visto que meu "ego" obteve praticamente status nulo até algum tempo atrás. Entretanto, devo agradecer às desastrosas experiências concedidas, pois há um caráter afirmativo afinal... sem elas eu não teria conhecido Sarcástika.