terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Da dinâmica



Dentre todas as minhas escolhas, referindo-me as efetuadas sob certo planejamento, pedir demissão do meu último emprego, fora definitivamente a mais assertiva.
Do mais mórbido e funesto dos incômodos, aquele que parecera violentar a minha identidade, surgira mais uma necessidade de desconstrução. Desta vez, de "vítima" a "algoz",  avancei sobre a dinâmica sócio corporativa.
Se o trabalho é a nossa segunda casa, a relação entre os empregados segue a mesma linha de convivência e hierarquias pré-estabelecidas de uma família. Elementos que já me haviam feito renegar a genética e após dez anos de "assistência administrativa" passaram a me embrulhar o estômago de forma ainda mais agressiva.
Num cenário comum, com alguma expectativa de vida que vislumbre o mínimo de conforto é preciso labutar pelo “pão de cada dia”! Entretanto, constitui alguma espécie de crime o reconhecimento das evidências deste condicionamento? Ainda existe alguma dúvida de que muitos de nós, aqui estamos, esforçando-nos cada vez mais no sentido contrário de nossas prioridades e satisfações, na esteira de um sistema mecanicista que ignora o belo discurso da responsabilidade e da subjetividade?
Fundamenta-se, em conseqüência do nosso comprovado grau de racionalidade, este com o qual orgulhosamente defendemos nossa superioridade, que não possamos ser adequados ou devidamente “adestrados” baseando-nos na mais pérfida das convicções de que diplomas eximem-nos da responsabilidade do desenvolvimento de habilidades e inteligências que nos sirvam além do cotidiano funcional.
Foi preciso estabelecer novos critérios para garantia de mudanças favoráveis. Dada a sustentabilidade deste sistema, não nutro esperanças. Reconheço que não se pode fugir da esteira, é fato! Mas é possível fazê-lo com pouco mais de dignidade. Decidi aposentar uma competência: A capacidade de lidar diplomaticamente com aqueles a quem julgo essencialmente humanos. Quero fugir do incômodo da obrigatoriedade coletiva, me resguardar o direito de escolher ao máximo meus vínculos sociais.
Bem vinda surpresa! Quero caminhar por entre aqueles que podem superar minhas expectativas positivamente. Reduzir a quantidade de úlceras provocadas por esse materialismo. Entre tantas paredes, me parece pouco provável esbarrar com aqueles a quem os crentes em espírito chamariam de evoluídos, e estes sim... Despertam-me emoções súbitas e conseguem a façanha de me resumir a frangalhos. Me afastam da tendência das generalizações. Ah sim, essa dinâmica me parece muito mais atrativa e já que a esteira não pode parar, que eu ao menos funcione no sentido horário.